Editorial
Fred Stapazzoli, sem título, 2022 - Óleo sobre tela, 37x29cm
Um acontecimento e um produto – foi assim que surgiu, trazida por Juliana Rego Silva em uma conversa da Equipe Editorial, uma concepção para este número da Revista. Um acontecimento porque sustenta a decisão de transitar para a modalidade digital, ampliando a possibilidade de transmitir o que acontece nos espaços do ICPOL-SC para além das fronteiras geográficas. E um produto no sentido da sistematização em forma de artigos de uma parte do trabalho tão vivo de transmissão da psicanálise que se faz no cotidiano dos núcleos de pesquisa, cursos, ateliês, conferências e demais atividades sustentadas pelo Instituto Clínico de Psicanálise de Orientação Lacaniana de Santa Catarina.
O que orienta é o nome da primeira seção da Varidade. Desdobrando este título, se pode dizer que o que orienta o atual momento do Instituto é a centralidade do caso clínico. A partir deste tema Alejandro Reinoso contribui com uma preciosa conferência sobre os vários aspectos da construção de um caso clínico. Um texto tão rico em detalhes que é daqueles que se deve ter sempre por perto. Abordando outra vertente da mesma questão, Ram Mandil, faz um percurso com enfoque na conversação clínica. Conduzida sempre a partir dos impasses e do que faz furo no saber estabelecido, a conversação entre os analistas permite a circulação dos casos clínicos na Escola e no Instituto, para recolher o que interroga e o que há de novo na subjetividade contemporânea, a fim de manter a lâmina cortante da verdade freudiana afiada e afinada com o nosso tempo. Mas afinal, de que lugar se pode transmitir algum saber sobre a psicanálise nos marcos do Instituto? É esta a questão que Maria Teresa Wendhausen trabalha em seu texto, abordando o ensino no Instituto e sua relação com o discurso analítico.
Na seção Ensino e Pesquisa trouxemos a sistematização dos trabalhos dos cinco Núcleos do ICPOL, apresentados em um Conversação Clínica, com a presença de Ana Eugenia Viganó, que nos falou desde o México, comentando cada um dos textos e casos clínicos apresentados. Traduzimos e transcrevemos seus comentários que seguem logo na sequência dos textos de cada núcleo. Ainda nesta seção temos o artigo de Aline Akina Arai, onde ela elabora seu percurso com o ensino no Instituto, a partir do tema O objeto a: da angústia ao desejo.
Intercâmbio é o nome da terceira seção da Varidade, marcando tanto a ideia de troca com colegas de vários lugares, quanto a troca entre o Instituto, a cidade e outros campos do saber. Cleyton de Andrade foi nosso convidado em um evento chamado O amor e a cidade, e colocou Freud para conversar com o Samurai X e Musashi, numa agradável possibilidade de leitura do Mais além do princípio do prazer, apostando em Eros como recurso para deixar a pulsão de morte, tanto quanto possível, numa assintótica, na perspectiva de que Eros ganhe fôlego para promover alguns laços onde até então se tinham apenas traços disruptivos. Novos laços com a cidade?
Ainda nessa relação com a cidade destacamos outra questão que orienta o atual momento do Instituto: colocar em marcha um projeto de uma Clínica de Atendimento. A partir de um cartel que estava funcionando com este tema, chegou-se ao texto de Omaïra Meseguer, coordenadora do Centro Psicanalítico de Consulta e Tratamento (CPCT) – Paris, que gentilmente nos cedeu seu texto para publicação. Omäira traz de maneira inspiradora questões sobre o funcionamento do trabalho analítico mesmo quando realizado num intervalo de tempo delimitado, ancorado no rigor teórico-clínico que permite fazer operar a psicanálise em diferentes circunstâncias. É com este artigo que encerramos a última seção da Varidade 2, já apontando para a trilha do desejo na continuidade das nossas pesquisas.
Cada um dos textos foi organizado numa composição com as obras produzidas por Fred Stapazzoli, nosso colega da Equipe Editorial, que carinhosamente nos cedeu as imagens de suas telas, nos dizendo o seguinte:
Fiz algumas monotipias com tinta a óleo. Uso a técnica assim: sobre uma placa de aço inoxidável, que me serve de matriz, eu construo um trabalho. Depois, eu faço não uma só impressão, mas pelo menos duas impressões sobre papel. Acho interessante a ideia da monotipia porque no momento de cada impressão, a construção de uma imagem só é possível porque a imagem da matriz se perde; se constrói uma imagem a partir de uma outra imagem que se desconstruiu, ao ponto de se perdê-la, destruí-la. Na monotipia a matriz fica inutilizada. E disso se faz uso.
A psicanálise também faz uso daquilo que parece inutilizado, podemos pensar isso com Freud, com Lacan e mais recentemente com Miller, especialmente em A salvação pelos dejetos. Portanto, nosso agradecimento ao Fred pela sensibilidade e generosidade.
A experiência de organização da Varidade 2 foi muito prazerosa, sobretudo pela transferência de trabalho entre a Equipe Editorial, tornando o processo leve e divertido. Obrigada Juliana Rego Silva, Paula Lermen, Fred Stapazzoli e Fernanda Volkerling. Agradecimentos especiais também à Diretoria do ICPOL-SC pela confiança, apoio e autonomia ao longo do período. Tivemos a felicidade de encontrar no caminho Marcos Lima, web designer, que pacientemente nos acolheu e tornou possível a transição para a revista em formato digital. Por fim, registro os agradecimentos aos autores e autoras pelas importantes contribuições.
Que a Varidade 2 seja para você uma agradável experiência. Boa leitura!
Adriana Rodrigues (EBP/AMP)
Coordenação Editorial